terça-feira, 27 de outubro de 2015

Vamos falar de violência de gênero, sim senhores.(parte II)

  
Arte : Tim Okamura

                                                                                                              Por Jordana Bulla

    Que foda é ser mulher, gente. Não dá pra descrever de outra maneira. Essa última semana em particular foi foda pra caralho. Nós somos obrigadas a assistir homens no poder mudando leis tão importantes pra gente. Ferindo nossa dignidade. Deixando claro quem manda em tudo aqui. Só que a gente já sabia, sempre soube, e daí resolveu que não ia mais deixar assim não.
   Aí depois de uma semana pesada dessa, chega a prova do ENEM pra fazer homem machista e escroto passar mal na hora da redação. Chega questão com Simone. Chega música do Pixinguinha. E você se emociona com os relatos das minas, com a força delas, com a luta e a garra dessas mulheres maravilhosas que não desistem nunca. Eu me emocionei com a redação da minha prima, meu bebê de 17 aninhos, que orgulhosa eu fiquei quando ela leu seu texto pra mim e eu percebi que ela está crescendo pra se tornar uma mulher forte, bonita, empoderada.
Vivenciamos a violência de gênero todos os dias,
e tem gente reclamando de escrever??
    Outra coisa importante é que quando a gente fala disso, quando a gente expõe a ferida em nível nacional como foi feito, as pessoas se mostram. E a gente descobre quem é quem pra se proteger ainda mais. E a gente ouve homem dizendo absurdo e a gente não se cala. E a gente tem a oportunidade maravilhosa de ficar cada vez mais longe dessa gente lixo que acha que discutir sobre a violência que as mulheres passam todos os dias de suas vidas é uma questão secundária. E esse é só o começo.

     Você reclamou de escrever um texto sobre o assunto em uma prova, mas a gente é obrigada a viver a problematização desse tema na pele. Nossa vida inteira é a discussão desse tema. Ser mulher é ser agredida de tantas maneiras, por todos os lados. Ser mulher é expor o que você pensa e ouvir que você é agressiva e exagerada quando o homem ao seu lado teve todo o direito de dizer o que quis sem repreensão nenhuma. Isso é uma agressão. Aquela cantada nojenta na rua quando você só quer chegar na padaria em paz é uma agressão. Quando você se sente invadida por uma opinião (que você nunca pediu) sobre sua bunda, seu peito, suas pernas, é uma agressão tremenda. Quando o homem grita com você porque acha que pode é agressão. Quando o homem pensa que seu corpo é uma propriedade, quando você é anulada como pessoa por campanhas publicitárias, quando te mandam “agir como menina”, quando sua voz tem sempre que ser mais baixa, quando você não pode receber o mesmo salário pelo mesmo trabalho, quando você tem que trocar a saia, quando você não sai a noite sozinha porque tem medo demais de não voltar pra casa. São tantas em uma vida tão curta que uma folha de papel jamais daria conta.
      Ser mulher é andar na corda bamba sim, mas de uma coisa eu tenho certeza: nós vamos juntas, nós não estamos sozinhas, nós somos cada vez mais fortes. E o choro, queridos, como já disseram por aí, é livre.

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